Nas últimas décadas, o riso foi promovido como uma possível cura para muitos males, incluindo câncer e problemas de coração. Todo mundo já ouviu a frase “rir é o melhor remédio”. Mas a alegria também pode ser mortal, fazendo com que a frase “Eu quase morri de rir” não seja tanto uma hipérbole, mas sim uma possibilidade real.
O termo hilaridade fatal é usado desde 1956 para caracterizar as mortes que acontecem a partir do riso, mas há registros de mortes assim desde a Grécia antiga. O filósofo grego Crísipo de Solis teria morrido em 208 a.c. dessa forma. Diógenes Laércio, biógrafo dos filósofos gregos, diz que duas possibilidades são conhecidas para a morte de Crísipo. Na primeira, ele teria sido visto com tonturas após beber vinho não diluído em uma festa e morreu logo após isso. Mas na segunda, ele estaria olhando um burro comendo alguns figos e gritou: “Agora dê ao burro vinho puro para limpar os figos”, e então morreu com um risada.
Há registros de mortes hilariantes nos tempos modernos também. Em 24 de março de 1975, o pedreiro de 50 anos Alex Mitchell, de King’s Lynn, em Norfolk, na Inglaterra, morreu de tanto rir enquanto assistia um de seus programas de televisão favoritos, o programa de comédia The Goodies. A sátira que levou ao ataque fatal de Mitchell envolvia um escocês que fugia com sua gaita de foles enquanto um pudim tentava atacá-lo. Mitchell foi incapaz de parar de rir, e depois de vinte e cinco minutos deu uma última “tremenda risada com a barriga, caiu no sofá e morreu”, disse sua viúva, que testemunhou sua morte.
Mitchell morreu em função de uma insuficiência cardíaca. Mas sua morte não foi causada por um ataque cardíaco clássico, mas sim o resultado de um distúrbio do ritmo cardíaco hereditário inusitado, que rotineiramente leva a vida de pessoas com 20 e poucos anos aparentemente saudáveis. Mitchell tinha síndrome do QT longo, uma doença rara na qual o coração é propenso a experimentar longas pausas entre batimentos cardíacos, especialmente após casos de excitação ou esforço. Após esse incidente, o coração se volta ao normal depois de alguns batimentos, mas em alguns casos (como este) a pessoa não é tão afortunada.
Um relatório mais estranho de um incidente de “riso fatal” foi relatado em Bangkok em 2003: “Um motorista de caminhão de sorvete na Tailândia morreu enquanto ria durante seu sono. Damnoen Saen-um, 52, riu por cerca de dois minutos ontem e depois parou de respirar, informou o jornal The Nation. A esposa de Damnoen tentou acordá-lo, mas ele continuou rindo. Uma autópsia sugeriu que ele poderia ter tido um ataque cardíaco. “Eu nunca vi um caso como este. Mas é possível que uma pessoa possa ter uma crise cardíaca enquanto ri ou chora muito durante o sono”, disse o Dr. Somchai Chakrabhand, vice-diretor-geral do Departamento de Saúde Mental”.
Segundo certos autores, a morte do rei birmano Nandabayin, em 1599, aconteceu devido ao fato dele “rir até a morte quando informado por um comerciante italiano visitante que Veneza era um estado livre sem um rei”.
No entanto, mesmo que tenha havido algumas mortes ocasionais devido a gargalhadas, a alegria é muito mais saudável do que prejudicial (pelo menos para aqueles que sobrevivem). Alguns estudos afirmam que o riso produz efeitos benéficos sobre a saúde física, incluindo a diminuição da secreção de cortisol (um hormônio do estresse) e o aumento dos níveis sanguíneos de imunoglobulina A, um anticorpo que combate infecções bacterianas e virais nas vias respiratórias superiores e nos tratamentos gastrointestinais.
No entanto, nem todos na comunidade científica apoiam essa ideia: em um estudo relatado em 2002 na Current Directions in Psychological Science (chamado “O riso é o melhor medicamento? Humor, riso e saúde física), os pesquisadores relataram que a conexão entre humor e o bem-estar era “menos conclusiva do que o comumente acreditado” e que “a pesquisa futura nesta área precisa ser conduzida teoricamente e ser metodologicamente rigorosa”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário